“Sem arrogância não dá para fazer propaganda”

BillBernbach

Hoje, 2004, a gente fala de Marcello Serpa, Olivetto, Nizan Guanaes, o D, o P e o Z e mais meia dúzia de profissionais renomados da publicidade brasileira. São todos grandes nomes da profissão, logicamente, mas nenhum deles carrega o título de maior publicitário da história.

Nem mesmo David Ogilvy pode ser chamado assim, pois antes dele, vem Bill Bernbach, ou melhor Willian (Bill) Bernbach. Para exemplificar, basta dizer que ele foi um dos criadores do modelo de agência de publicidade que temos nos dias de hoje.

Pois em 1939, o atendimento Ned Doyle, o administrador Maxwell Dane e o criativo Bill Bernach fundaram a DDB. Que hoje é um dos maiores grupos de comunicação do mundo e uma referência a muita gente que veio depois dela.

Bom, não vou ficar falando muito. Para mostrar quem foi Bill Bernbach, irei recorrer a um pequeno resumo de seus feitos publicado na revista Super Interessante deste mês. O artigo é assinado por Álvaro Oppermann.

Quem quiser saber mais, é só pesquisar na internet. Está cheio de sites por aí que contam muito mais sobre Bernbach.

:: O gênio do Fusca
por Álvaro Oppermann

O publicitário Bill Bernbach tinha pela frente um problema e tanto naquele ano de 1959. Sua agência acabara de ser contratada para fazer a propaganda do Fusca nos Estados Unidos. Os americanos não gostavam do carro. Insensíveis ao seu arrojado design, criado pelo austríaco Ferdinand Porsche, inspirado numa gota d’água, o achavam feio e pouco prático. Deram a ele o apelido pejorativo de beetle, besouro em inglês. Além disso, carregava a pecha de ser “o carro de Hitler”, o veículo que o ditador nazista sonhara para o povo alemão. Lançado nos Estados Unidos em 1949, foi logo um fracasso. Em 1950, dos 6,6 milhões de veículos novos do país, apenas 330 eram da marca Volkswagen.

Bill Bernbach, um nova-iorquino nascido em 1911, resolveu mudar esse cenário e engatou uma nova marcha na história dos negócios do século 20. O anúncio que criou para o pequeno besouro alterou o curso do automóvel no país e, de quebra, mudou o jeito de se fazer propaganda no mundo. O seu título era “Think small” (pense pequeno). Seu humor provocativo ia contra o pensamento corrente nos EUA do “pense grande”. Um fenômeno curioso se registrou: os consumidores chegavam às lojas de automóveis repetindo aos vendedores quase literalmente os textos da campanha publicitária que tinham ouvido.

Os anúncios de Bill tinham humor e falavam com o consumidor como se fosse um amigo próximo. Além disso, o publicitário colocou um ingrediente inédito nos anúncios americanos: a malandragem de quem nasceu no Bronx.

Para a então obscura locadora de automóveis Avis, que no ano de 1962 se encontrava bem distante da líder e rival Hertz, criou a campanha “Nós somos o número dois”. Ser vice, argumentava Bernbach, era um estímulo para a Avis atender melhor o cliente e assim bater a líder. O que de fato aconteceu.

Por trás do malandro, porém, escondia-se um erudito que estudara literatura inglesa e filosofia. O passado imerso nos clássicos o ajudou. Vendo em retrospecto, os melhores anúncios de Bernbach se apoiavam num velho truque de retórica, cujo artifício consistia em, de início, concordar com a opinião contrária de uma platéia hostil, a fim de ganhar sua simpatia e confiança, para só então expor os argumentos que faziam o público mudar de opinião.

A erudição não era sua única marca distintiva. Organizado, nunca saía do escritório depois das 5 da tarde. De gosto apurado, estava sempre de paletó e gravata. Foi o primeiro a dar um lugar ao sol na publicidade a judeus, italianos e negros, antes rigorosamente excluídos da avenida Madison (rua das agências em Nova York).

Polêmicas também cercavam o nome de William Bernbach. Era considerado arrogante. “Sem arrogância não dá para fazer propaganda”, afirmava categoricamente. Rendeu-lhe críticas também o fato de ser judeu e ter transformado o sinistro carro de Hitler no simpático Fusca (ou Beetle e Carocha, alguns dos nomes que recebeu mundo afora). Aos críticos, respondia: “Nada é mais danoso a um mau produto que a boa propaganda”.

Bernbach morreu em 1982, de leucemia. Recentemente, foi eleito o maior publicitário da história. Criar um dos ícones do século 20 foi só uma de suas façanhas. Persuasão era a arte de Bill.

Fonte: Brainstorm9

Ricardo Chester. Entrevista de 2011. (Dados atuais)

chester

Ricardo Chester começou a trabalhar aos 18 anos como Caixa do antigo Banco Nacional. Depois, entrou como office-boy na MPM Propaganda. Ou seja, nesses 25 anos de carreira, sempre trabalhou em agência. Jornalista formado pela Cásper Líbero, foi de contínuo de assessoria de imprensa a Vice-Presidência de Criação(Rede106). Em 2012, tornou-se Diretor de Criação da Africa, cargo que cumpriu até Agosto de 2014. Atualmente, Setembro de 2014, ocupa a posição de Redator da AlmapBBDO. Trabalhou também na MPM, MPMLintas, Talent, DPZ, Loducca, GiovanniFCB, DM9DDB, JWT e Babel. Tem 15 Leões em Cannes.

No fundo, no fundo, o que fez você escolher essa profissão?

Na verdade, a proximidade física com ela. Eu era caixa de banco. Estudava jornalismo, porque sonhava em trabalhar com jornalismo esportivo. No corredor da faculdade, aparece um cartaz da MPM Propaganda, a número um do Brasil na época, 1986. Eu participei e ganhei o concurso. Trabalhei como office boy da assessoria de imprensa da agência por um tempo, afinal, estudava jornalismo. E também fazia o jornalzinho semanal da agência. O que hoje são os sites e blogs, naquela época era impresso. E eu fazia tudo, das matérias ao grampeamento das páginas. Isso fez com que eu conhecesse a rotina das duplas na hora de criar e produzir uma campanha. A década de 80 era de ouro para a MPM. Então eu conheci os bastidores do que melhor se fazia na primeira agência do Brasil. Era muito sedutor. Naquela época, as duplas tinham sala, tinham tempo, tinham dinheiro aos montes. Todo mundo ria o dia inteiro. Eu achava aquilo melhor que a rotina de um caixa de banco, que conhecia. Terminei a faculdade de jornalismo e resolvi apostar tudo na propaganda. Um dia, uma dupla não tinha tempo de fazer um anúncio de Cofap para o Dia dos Pais, que eu mesmo havia pedido. A Assessoria de Imprensa da MPM cuidava não apenas desta área de alguns clientes, mas também de suas contas institucionais. Pedi para o falecido Castor para tentar fazer o anúncio, mais preocupado com o prazo do que com meu futuro. Ele deixou. O cliente aprovou e desde aquele dia eu botei na cabeça que queria ser um redator. Enchi tanto o saco do Gilberto dos Reis, o Giba do CCSP, que ele acabou me colocando no Merchandising da agência. Mario Campos do Nascimento, para minha alegria, não se opôs e o começo assim foi.

Muitos jovens tem dúvidas sobre sua escolha em ser um criativo. Que fatores ou “sinais” acha importante para ajudar nessa resposta?

Confesso que se tivesse hoje na idade de escolher, também teria essa dúvida. Porque hoje, pra mim, o setor mais criativo de uma agência é o Planejamento. Explico. Quanto vale um insight como o de Puma, dos atletas noturnos? Tenho a sensação de que isso veio do Planejamento, e ficaria honrado em ter tido essa idéia. Porque ela é mais perene que qualquer execução. Então, hoje, se quisesse ser um criativo, adicionaria nessa cesta de possibilidades o Planejamento. E acho que o Planejamenton hoje tem um papel bem mais influente e decisivo no negócio que nunca. Pergunte a qualquer cliente. Enfim.

Anúncios, roteiros, ações, videocases, etc. Afinal, o que é legal ou não ter na pasta?

Tenho visto zilhões de pastas, links, pendrives e dvds. O que mais me tem assustado é que, especialmente em pastas de redatores, está escasso o maior diamante de todo criativo, independente de sua idade, posição ou tempo de carreira: o raciocínio. É tudo muito baseado na execução e isso torna as pastas muito parecidas. Mesmo com a explosão digital. Tentando ser menos ácido, acho que o verdadeiro malaco criativo é aquele que entender, o mais cedo possível, que nossa profissão é um serviço de fornecimento de raciocínios. E não de execuções bacaninhas. Se a execução bacaninha for seguida de um raciocínio interessante, o trabalho é bom. Eu costumo brincar: colocar uma microcâmera dentro de um ralo pra mostrar a bunda da barata não me convence. Tem um cliente e um raciocínio a serem conquistados. É melhor você ter o segundo, para continuar atendendo o primeiro.

Se pudesse escolher apenas 3 fontes de referências, quais seriam?

A rua, cultura geral e a rua.

Imagine que um dia, um de seus filhos escolha ser um criativo. Que conselhos daria?

Aprenda com Steve Jobs. Tenha obsessão pelo bem-feito. E sempre trabalhe perto de grandes criativos.
Mas prefira o Planejamento. Porque se você for realmente bom no Planejamento, e tiver criativos por perto, é o seu trabalho que vai ficar para sempre.

Linkedin do Ricardo Chester.

Fabio Fernandes: criatividade é algo que se aprende para viver

ff

Para Fabio Fernandes, presidente e diretor geral de criação da F/Nazca Saatchi & Saatchi, o momento mais sublime é o ponto zero, o papel branco, onde tudo ainda é possível. Importante é levar em conta que mensagem original não surge a partir dela própria, da vontade em si de fazer algo novo apenas. Isso é o que ele considera egocentrismo publicitário, prática da qual diz ter se livrado quando era “novo o suficiente para ser idiota e achar que o publicitário e seus sonhos são a razão de existir da publicidade”. Antes de tudo vem a marca anunciada, a estrela da comunicação, que orienta os instintos. Fabio segue sendo um dos melhores, há muitos anos. Um dos motivos deve ser nunca ter perdido o friozinho na barriga a cada desafio profissional.

Bom senso e obediência não combinam com criatividade. É o que disseram Picasso e Raul Seixas. Você concorda?

Fabio – Quem sou eu para discordar de Picasso ou Raul Seixas? Por outro lado acho que, na atividade publicitária, o momento criativo se divide em dois: o da criação propriamente dita, onde um certo caos, o descompromisso, a ausência total de senso de ridículo ou de autocensura devem prevalecer, e um segundo momento, onde devemos criar algum discernimento mais consciente para avaliarmos a adequação das ideias às necessidades culturais e comerciais do cliente e do produto que vamos anunciar. É a velha discussão sobre se a publicidade é arte ou apenas cultura popular. Eu acredito na segunda hipótese e entendo que temos até talentos artísticos, mas a serviço de algo muito diferente das intenções de um artista.

Nasce-se criativo ou desenvolve-se a habilidade ao longo da vida?

Fabio – Acho que todo mundo nasce com potencial para ser criativo. Mas alguns não limitam, ou ao contrário desenvolvem melhor a criatividade nos primeiros anos de vida – mas para viver, nunca com o objetivo racional de ser criativo. Algumas pessoas ficam mais criativas que outras porque têm menos medo de se expor, porque acham que se expressam melhor quando trazem um ponto de vista diferente, porque são mais críticas que a média, ou porque simplesmente descobrem que falar, agir, se vestir, contar histórias, piadas, cantar, tocar um instrumento, escrever, pensar diferente, faz a gente se destacar, em alguns casos, existir. Nessa lógica, usar a criatividade pode ser um meio de sobrevivência: a arma de uma espécie mais fraca para superar outra espécie mais forte em fundamentos que, habitualmente, são considerados mais importantes ou marcantes à primeira vista.

Criatividade se ensina?

Fabio – Não. Você pode dar ferramentas para que uma pessoa use e pratique melhor sua criatividade inata. Até porque ela pode estar voltada para as mais diferentes atividades, e nem sempre uma pessoa criativa para as artes plásticas, por exemplo, saberá canalizar essa criatividade para a propaganda ou para a literatura. Mas, como acredito que todo ser humano nasce criativo, ensinar criatividade pode ser o simples exercício de ajudar a criança na idade mais tenra, dando a ela instrumentos e apoio para que desenvolva autoconfiança suficiente para nunca se autocensurar, nunca se acreditar incapaz. Por outro lado, trabalhar na busca pela criatividade nos ensina também. Ensina que nenhuma palavra, nenhum ponto de vista, nenhuma imagem jamais esgota ou esgotará tudo o que um assunto ou um tema pode suscitar.

Como você desenvolveu o seu olhar criativo para o mundo?

Fabio – Sendo chato. Inconformado com as versões oficiais. Sendo curioso, intrigado, inquieto, insatisfeito comigo mesmo. E querendo ser engraçado o tempo todo.

Quando e por que decidiu ser redator?

Fabio – Quando descobri que existia essa especialidade no negócio da criação publicitária. Como sou incapaz de desenhar qualquer coisa, por mais básica que seja, entendi que minha habilidade para contar histórias, escrever poemas, músicas, crônicas, poderia me ajudar a me expressar na atividade que decidi abraçar. Modestamente, acho que escrevo bem. Mas o meu negócio é criar, inventar, pensar coisas que não foram feitas ainda. A redação foi o meio que usei para chegar a isso.

Quando descobriu que era bom no que fazia?

Fabio – Quando comecei a notar que muitas pessoas achavam isso. Sempre desconfiado, demorei bastante a admitir que eu era realmente bom. Passei muito tempo achando que não saberia fazer o próximo. Mas, à medida que ia conseguindo fazê-lo bem, ia sendo elogiado pelos colegas, pelos clientes, destacado nas premiações internacionais, fui relaxando e passei a aproveitar ainda mais aquele que é o momento mais sublime pra mim: o ponto zero, o papel branco, onde tudo ainda é possível. Aquele oceano de possibilidades que existe antes de uma ideia.

Como é seu processo de criação: silêncio, barulho, meditativo, metódico, caótico?

Fabio – Só consigo ter ideias sabendo para que elas vão servir. Por que aquela mensagem precisa existir, para quem, quando. Não consigo cumprir a tarefa de preencher um espaço vago, um compromisso com um calendário ou um veículo. Para mim, se vamos falar, temos que saber por que vamos falar. Isso é fundamental para poder falar da melhor maneira jamais falada no mundo. O resto é errado. Também é por essa razão que trabalho muito ao lado do planejamento. E dos clientes. Uma mensagem original não surge a partir dela própria, da vontade em si de fazer algo novo apenas. Isso é egocentrismo publicitário, prática da qual me livrei quando era novo o suficiente para ser idiota e achar que o publicitário e seus sonhos são a razão de existir da publicidade. Evidente que é a marca anunciada a estrela da sua comunicação. É ela quem tem que orientar os seus instintos. É por ela que o consumidor tem que se apaixonar, desejar, pagar mais. A comunicação, a publicidade, é o meio que usamos para que essa relação se estabeleça e esses sentimentos aflorem. Então, eu ouço muito. Ouço os problemas da marca, ouço as críticas dos consumidores, ouço e penso junto sobre como posicionar e como mostrar o lado mais fotogênico e verdadeiro daquela marca para aquele consumidor. Nessa fase eu luto. Luto e reluto como louco. Discuto, discordo, falo um monte de bobagens. Sei que um briefing que nasce diferente vira um produto final diferente. Então, antes de tudo, é aí que eu crio.

Criar sozinho é melhor ou você gosta de grupos de brainstorming?

Fabio – Adoro trabalhar em equipe. Adoro ouvir outras ideias que eu nunca pensaria sozinho. Adoro usar meu talento para fazer curadoria e pequenas (ou grandes, às vezes) reformas a partir de um insight que outra pessoa teve. Surfo nas melhores e nas piores ideias. Acho que todas merecem umas cinco versões antes de serem totalmente abandonadas. No mínimo, viram piadas que nos divertem durante o processo de criação. Por outro lado, adoro plateia. Quando conto alguma coisa que pensei olho detidamente para os meus interlocutores. Pela expressão que vão fazendo, tenho uma capacidade meio que de repentista, de ir mudando na hora o tom, o texto, alguma situação, que sinto que agrada mais ou menos. Quando eu crio, todo mundo é meu diretor de criação, menos eu mesmo.

Criatividade é algo natural para você, ou é sofrido? Causa ansiedade? Tira o sono?

Fabio – É tudo ao mesmo tempo. Algumas vezes é só uma coisa ou outra. Outras vezes não é nada disso. Nunca é igual, nunca é a mesma coisa, o mesmo jeito, o mesmo sentimento. O que permanece sempre é uma certa incerteza de que dessa vez eu vá conseguir me superar de novo. E um friozinho no estômago, que o dia que você perde é porque virou tão fácil fazer que você está apenas se repetindo.

Qual o papel da vaidade para o bom criativo?

Fabio – É tudo, desde que usada corretamente. Pode destruí-lo quando acha que está acima de tudo, pode ser o estímulo cotidiano que faz você buscar mais e melhor como se fosse a primeira vez.

Você é vaidoso? Quando isso é uma vantagem, e quando isso atrapalha?

Fabio – Sou. A vaidade é boa quando você é movido por ela acreditando que só a vitória, o sucesso do seu trabalho (que inclui obrigatoriamente o sucesso de para quem e com quem você trabalha) vai realimentar a sua autoestima.
Mas atrapalha quando você é tolo o suficiente para estragar qualquer noção de realidade, de trabalho em grupo, de necessidade de saber ouvir e respeitar os outros. Ou seja, quando você se leva a sério e passa a acreditar que merece se achar o máximo. O bom vaidoso não é o que se acha lindo. É o que se acha feio.

O que é ser criativo, pra vc?

Fabio – É saber que nunca foi o suficiente.

Qual o seu critério para contratar pessoas para trabalhar com você?

Fabio – Serem melhores do que eu em algum aspecto. Ou em todos.

O que inspira você?

Fabio – O que eu não conheço, o que eu nunca vi, o que eu nunca pensei que fosse possível, o que eu odeio não ter pensado antes. E a vida cotidiana, corriqueira. As coisas extremamente simples, desapercebidas, injustiçadas pelas câmeras fotográficas, pelos artistas, pelo olhar comum.

O que não bloqueia, o que bloqueia?

Fabio – A pressão, o prazo. O que me bloqueia: o ambiente de medo e de desconfiança.

O que você faria se não trabalhasse em propaganda?

Fabio – A música é a única coisa em que eu penso quando me fazem essa pergunta. Sempre quis ser cantor, guitarrista, compositor. Mas não sei se teria algum sucesso. Na verdade, penso muito no que mais eu poderia fazer, toda vez que estou frustrado, decepcionado, triste, por qualquer razão, com a minha profissão. Mas gosto demais do que eu faço e nunca encontro um lugar para fugir. Acho, sinceramente, que eu teria feito alguma falta ao negócio da propaganda, mas não vejo nenhuma outra atividade que tenha se ressentido da minha ausência. Posso responder ainda de outra maneira. Se eu não trabalhasse em propaganda, provavelmente não seria feliz. E seria mediano em algo que eu desconheço.

O que você faz quando não está trabalhando?

Fabio – Minha família é o meu reduto mais querido e seguro. Quando não estou trabalhando só penso em estar com meus filhos, minha mulher e com amigos queridos que me trazem uma visão de mundo diferente da que eu vivo no meu dia a dia. De resto, adoro sol, mar, viajar, uma Skol, um vinho, música e, supremo prazer, conversar sem parar.

O que lhe interessa no cinema, na literatura?

Fabio – Tudo. Literalmente tudo.

O que leu e assistiu recentemente? Por que gostou? Ou por que não gostou?

Fabio – Neste momento estou lendo três livros: Madrugada Suja, do escritor português Miguel Sousa Tavares; Killing Bono, do Neil McCormick – hoje crítico musical, foi amigo de escola e teve um início de carreira paralelo ao do vocalista do U2 e que odeia não ter conseguido ser o próprio Bono Vox – engraçado e ácido; e Sonho Grande, que conta a trajetória de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira. Acabei de ler um livro que comprei despretensiosamente e amei cada uma de suas 720 páginas. É do Stephen King e se chama Novembro de 1963. Mistura realidade, história, política, viagens no tempo e ficção ao contar a aventura de um cara que tenta evitar que Lee Oswald assassine Kennedy. Fascinante.

Que pessoas criativas inspiraram você ao longo da vida?

Fabio – Pablo Picasso e Raul Seixas. (risos)

Fonte

Flexão do infinitivo e concordância

writing_cog

A flexão do infinitivo, convenhamos, é um problema para a maioria dos redatores, geralmente às voltas com as dúvidas sobre o tema. Para piorar a situação, há casos em que é preciso considerar duas regras conflitantes e equilibrá-las de forma coerente.

Normalmente, quando está apassivado (ser feito, ser eleito, ser homenageado), havendo sujeito plural, o infinitivo vai para o plural. Por exemplo: “Eram jovens que, pela primeira vez, tinham a oportunidade de serem eleitos”. Como o particípio sofre a flexão de gênero e número, o infinitivo do verbo auxiliar (“ser”), até por eufonia, vai também para o plural, acompanhando a flexão de número do particípio (“serem eleitos”, em vez de “ser eleitos”).

O redator deparou, entretanto, com a seguinte situação:

Humoristas, como Tiririca, usam fama para tentar (ser ou serem?) eleitos.

Optou pelo seguinte:

“Humoristas, como Tiririca, usam fama para tentar serem eleitos“.

A solução não foi das melhores. O verbo apassivado foi construído com um auxiliar (“tentar”). Na prática, a locução tem dois verbos auxiliares, “tentar” e “ser” (este o auxiliar da voz passiva). Num caso como esse, somente o primeiro auxiliar (no caso, “tentar”) sofre a flexão. Para facilitar a compreensão, basta imaginar um período como “Neste ano, eles deverão ser eleitos” (dificilmente alguém optaria por “deverão serem eleitos”).

No caso em questão, todavia, contribuiu para a confusão o fato de o infinitivo (“tentar”) não estar flexionado, coisa que se explica pelo padrão da flexão do infinitivo. Não havendo mudança de sujeito (do verbo anterior, “usam”, para o infinitivo subsequente, “tentar”), não se faz a flexão. Um exemplo simples para facilitar o raciocínio: “Eles usam a fama para ganhar (não “ganharem”) dinheiro”, porque “ganhar” tem o mesmo sujeito de “usam”.

Muito bem. Fica explicado o motivo pelo qual “tentar” não sofreu a flexão de número (plural). Juntando as várias informações, chegaríamos à construção mais facilmente abonada pelos nossos ouvidos.

Como fazer títulos em 14 passos. Por Manuel Rolim.

copywriting-Marek-Fotolia
1) TODA REGRA TEM EXCEÇÃO

Ok, eu disse que não haviam regras. Mas, como toda regra, estas dicas também têm exceção. Existe sim uma única regrinha básica. É a pedra fundamental da criação de títulos. Guarde bem essa frase. Vamos lá:

2) FAÇA MUITOS TÍTULOS
Simples assim. Não seja preguiçoso. Geralmente, é da quantidade que vem a qualidade.

3) PRIMEIRO A OBRIGAÇÃO, DEPOIS A DIVERSÃO
Antes de começar, estude o tema. Mergulhe naquele universo, veja anúncios da concorrência, analise o diferencial do seu produto, tente se colocar na posição do consumidor. Veja como a marca se comunica, o tom de voz usado em campanhas anteriores. Vale tudo, até ler o briefing. Estou brincando. Ler o briefing já é demais.

4) PONHA EMOÇÃO NO TÍTULO
O título tem que transmitir alguma emoção. Se não é só o briefing reescrito. “O que não pode ser dito literalmente, muitas vezes é dito lateralmente.” Em uma tradução porca é o que o David Abbott diz sobre a campanha da Economist. Ou, só para manter nas traduções porcas, “Advertising is gift-wrapped argument”, como disse o Mohallem.

5) ESCREVER É A ARTE DE CORTAR PALAVRAS
Às vezes, eu gosto de escrever um longo texto. Ao encadear ideias, ao formular um grande raciocínio, pequenos títulos vão surgindo no caminho. Você se obriga a organizar seu argumento, a se portar como um vendedor. O texto precisa ter gordura para cortar. Por exemplo, a primeira versão deste texto era três vezes maior.

6) NÃO TENHA MEDO DA FOLHA EM BRANCO
Este problema nunca aconteceu comigo. Não porque eu seja corajoso ou porque seja fácil ter ideias. É que quando eu sento para fazer títulos, meu superego coloca um colar de havaiana e embarca no primeiro avião com destino à felicidade. Eu escrevo qualquer coisa no arquivo de word. Qualquer mesmo. Uma vez o Diretor de Criação leu em voz alta um título meu. E não foi porque ele era bom. Acho fundamental o processo de escrever bobagens. Elas precisam sair da frente para surgir algo relevante. E, algumas vezes, a bobagem serve como pontapé inicial para uma ideia boa.

7) ESTUDE PROPAGANDA
Eu sou rato de anuário. Hoje pouquíssimas campanhas de títulos ganham prêmios, mas se você pegar anuários da década de 90 e começo dos anos 2000, tem muito material para estudar. Além disso, pela internet você tem acesso irrestrito às mais premiadas campanhas. Visite o site do Neil French, do One Show, do D&AD, os cargocollective dos redatores que você admira.

8) NÃO ESTUDE SÓ PROPAGANDA
Cinema, teatro, arte, boteco, futebol, música, política. Tudo ajuda. Eu adoro aforismos, por exemplo. Em poucas palavras, eles estabelecem um raciocínio enorme. Nos títulos também é assim: frases curtas, raciocínio grande. Um dos melhores títulos que eu já vi tem 4 palavras, mas diz mais que muito livro por aí.

9) LAPIDE SEU TEXTO
Mario Quintana disse que é preciso escrever muitas vezes para que se dê a impressão de que o texto foi escrito pela primeira vez. Eu costumo fazer várias formulações pro mesmo título. Inverto a ordem, troco preposições, tento sinônimos, corto palavras. O diamante nada mais é do que um grafite submetido a alta pressão. (viu como títulos melhores surgem quando você escreve um texto longo?)

10) LEIA EM VOZ ALTA
Está em dúvida se o título está com um bom ritmo, se tem a intenção que você quer? Leia em voz alta. Se soar esquisito, ou você é fanho ou o título precisa melhorar.

11) ESCREVER É UM TRABALHO SOLITÁRIO
Você precisa de concentração. E nos ambientes sem divisórias de agências, tranquilidade é artigo raro. Eu me distraio com muita facilidade, então não abro mão do fone de ouvido. Outro problema é a danada da internet. Minha curiosidade fala mais alto e lá vou eu assistir a um vídeo de gorilas jogando truco. Há pouco tempo baixei o Ommwriter, um software que promete manter sua concentração. Ajuda. Mas o que funciona mesmo é fechar todas as janelas do computador (inclusive o vídeo do gorila e o cargocollective do redator que você admira), sentar a bunda na cadeira e fazer.

12) PONHA SUA VIDA NOS TÍTULOS
Suas experiência pessoais geram pontos de vistas únicos. Sua conversa com a faxineira, o ônibus que você pega, a festa de Natal na sua casa, sua briga com a namorada. A sua vidinha nunca saiu na Archive. Ela é seu trunfo. Pode apostar, mais dia, menos dia, você vai buscar inspiração em uma bobagem do seu cotidiano.

13) PROCURE NOVOS CAMINHOS
Bateu o desespero? Antes de apelar para entorpecentes, duas soluções me ajudam a desanuviar a cabeça.

Andar. Muitas vezes, a solução para o problema que eu venho matutando durante o dia todo chega quando estou correndo pra pegar o ônibus. Já li que outras pessoas como o Chico Buarque lançam mão do mesmo artifício. Não estou me comparando com o Chico Buarque, que fique claro. Ele ainda tem muita chão pra caminhar.

A outra ajuda é uma pequena manobra no briefing. Pense naquele produto que você está anunciando. Agora mude o público-alvo. Como seria o título se o público fosse de velhos? E se fossem astronautas daltônicos, fãs do Big Lebowski, que acabaram de voltar de uma longa jornada no espaço?

14) APRENDA COM OS MESTRES
Esquece o que eu escrevi e vá ler o Copybook. Tudo que você precisa está lá.

Fonte